terça-feira, 10 de julho de 2007

Análise do artigo de Cíntia Alfieri Gama,"A Bela Festa do Vale"do livro Memória e Festa.

A Bela Festa do Vale


Cíntia Alfieri Gama inicia seu artigo expondo que o festival, isto é, A Bela Festa do Vale, é um dos mais importantes dentre as festividades existentes no calendário egípcio. Ele teria sido iniciado no reinado de Nebhepetre Mentuhotep, faraó da XI dinastia, que construiu um templo localizado na margem oeste do Nilo, na região tebana. Esse faraó é o responsável pela introdução do culto de Amon-Rê,divindade solar e real que no Alto Egito assume o papel de Rê-Atoum Heliopolitano,na margem ocidental de Tebas.Então a renovação dos dogmas reais e solares é,portanto,acompanhada de novos esquemas litúrgicos,no qual toda a população participa

A autora afirma que esse festival ocorria na estação shemu(verão), cinco meses antes de outro grande festival tebano, Opet, também relacionado a Amon. Consistia em uma travessia da imagem de Amon-Rê do templo de Karnak para Tebas ocidental,tendo como fim o templo de Deir-el-Bahari e a duração dessa festa varia de acordo com as fontes,podendo prolongar-se de uma até onze noites,sendo que durante o Novo Império,toda a população começa a participar da festa,seguindo a procissão divina com imagens de seus antepassados mortos e oferecendo flores ao deus.

Cíntia supõe que esta festa egípcia tenha se tornado um festival dos mortos, em que a população, além de cultuar Amon e, por conseqüência, a imagem do faraó associada a este, ia louvar seus familiares mortos, fazendo oferenda a estes, dormindo na necrópole junto ao sepultamento e realizando banquetes com os mesmos, isto é, com uma possível imagem ou representação destes. A partir daí percebe-se uma característica marcante na religião egípcia que se manifesta frequentemente, em que preceitos antes voltados apenas para realeza acabam expandindo-se para toda sociedade.

Segundo a autora a imagem de Amon que se desloca para a necrópole é a de Amon-Rê, deus em seu aspecto solar, o que é observado pelos textos que acompanham sua representação e pelo fato de se utilizar água (elemento de purificação dos mortos) para locomoção da divindade, sendo que essa navegação para o Ocidente não é apenas proposital para atingir a margem oposta ao templo de Karnak, mas também intencional, sendo a viagem pelo Nilo da imagem deste deus o ato da cerimônia por excelência. Por meio desta travessia e de suas representações ,temos reproduzidos os ciclos solares,em que os deuses cosmogônicos de Heliópolis e o próprio faraó aparecem asssociados ao ato da navegação.Assim a chegada da barca solar no deserto ,isto é,nos confins do mundo dos vivos,sob a ótica egípcia,seria a absorção do Sol pelo céu noturno,o próprio astro sendo enterrado no seio da deusa Hathor da Necrópole para renascer de manhã com suas forças restauradas.Então a partir desses preceitos observa-se que o papel central da figura do faraó e da realeza .Pois da mesma forma que o deus é revigorado,o faraó reinante teria suas forças restituídas.Da mesma maneira que,aos faraós já mortos,estaria assegurado um destino solar no além e com esta manutenção do poder do rei vivo e de seus predecessores já falecidos,percebe-se a manutenção da própria memória da monarquia e do poder real.

Sendo assim o faraó possui como ideal ter o mesmo destino do deus, esta vontade também é expressa pela população em suas tumbas particulares. Porém,à população cabe preservar a memória de seus antepassados,enquanto que,no que se refere ao faraó,é a memória da monarquia que é mantida.Assim,ressalta-se que durante o Novo Império,há varias procissões em que a imagem do deus sai do templo e é neste período que as barcas portáteis são produzidas nos templos.Estas saídas aproximam ,de certa forma,a população desta religião oficial dos templos nos quais a entrada do povo era proibida,fortalecendo assim o culto às divindades oficiais e tutelares como Amon.Estas,como uma representação do poder faraônico,fazem com que ,por meio desses festivais,o faraó reafirme seu poder perante o povo,associando-se ao grande deus.

João Vinicius Bobek

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