quinta-feira, 21 de junho de 2007

" História da Vida Privada" - Análise do texto de Ariès e Duby,quanto as festas,prazeres e excessos na Roma Antiga

Universidade Estadual de Ponta Grossa

História da Vida Privada

Banquetes

Os autores introduzem o texto afirmando que o banquete é cerimônia de civilidade, pois para todos os usos, é a circunstância em que o homem privado desfruta do que ele de fato é e mostra veridicamente os seus pares.Os imperadores romanos, por exemplo, ao cair à noite, jantavam com seus convidados, que eram senadores ou simples cidadãos cuja companhia apreciavam.Acabavam-se as honras “públicas” e o “governo” do patrimônio: à noite o homem privado desabrochava no banquete e até os pobres tinhas suas noites de jantar.Assim o homem privado esquecia tudo durante o banquete, menos sua eventual “profissão”; um indivíduo que faz voto de consagrar a vida à busca da sabedoria não festejava da mesma forma que o profano vulgo, e sim como filósofo.
Afirma-se que o banquete constituía uma arte e jantava-se com clientes e amigos de toda posição, tanto que a ordem de precedência era rigorosamente observada na distribuição dos leitos ao redor da mesa onde ficava os pratos.Não havia festim sem leito, mesmo entre os pobres: só se comia sentado nas refeições comuns.A comida continha muitos temperos e molhos complicados, sendo que a gama de sabores favoritos situa-se no agridoce.Para beber o vinho cortado com água.Os autores destacam que a melhor parte do jantar, a mais longa, é aquela em que se bebe; durante a primeira parte do jantar nada se faz senão comer sem beber; a segunda parte, em que se bebe sem comer, constitui o banquete propriamente dito.Assim torna-se uma pequena festa, onde cada qual deve manter seus personagens constituindo o banquete como untuoso e brilhante assim como uma noite de amor.
Para o homem da antiguidade o banquete era mais que um banquete, e esperavam-se considerações gerais, temas elevados, recapitulações de atos pessoais; constituindo uma manifestação social equivalente ao prazer de beber, que para o romano designava os prazeres da mundanalidade, da cultura e às vezes os encantos da amizade.

Confrarias

Segundo Ariès e Duby, o povo conhecia com menos ostentação o prazer de estar junto; havia a taberna e os “colégios”, ou confrarias.Essas práticas populares eram de mau tom, e um notável perdia a reputação se o viam jantando numa taberna; não era sério viver na rua, sendo que o poder imperial moveu uma guerrilha de quatro séculos às tabernas para impedir que servissem também restaurante, pois era mais moral comer na própria casa.
Quanto às confrarias, o imperador desconfiava, pois reunia muitos homens e seus objetivos não eram claramente definidos, pois ele temia tais núcleos de poder.Em princípio os “colégios” eram livres associações privadas às quais aderiam, se o desejassem, homens livres e escravos que exerciam a mesma profissão ou queriam venerar o mesmo deus, pois cada confraria estabelecia-se numa só cidade: compunha-se visivelmente de pessoas do local e que se conheciam.E essas pessoas eram exclusivamente homens: nada de mulheres nos colégios.Enfim, fosse seu objetivo religioso ou profissional, os diferentes colégios eram organizados nos moldes de uma cidade.Assim sendo os colégios são um lugar onde os homens, sem as mulheres, encontram um pouco de calor humano.Se o colégio for religioso, o deus a venerar será pretexto para um banquete; se for profissional pessoas do mesmo oficio se encontrarão com prazer, pois cada membro pagava pelo direito de ingresso, somados aos recursos do evergetismo, essas rendas da confraria permitia-lhe banquetear-se alegremente e garantir a seus membros funerais decentes, seguidos também de um banquete.Os autores citam Cipriano para afirmar que o banquete e a sepultura são os dois objetivos das confrarias; Então a multiplicação dos colégios transformou-se no quadro principal da vida privada plebéia, e por isso é que o poder público imperial desconfiava e como sempre, esses colégios imitavam a organização política de uma cidade.

Festa e Religião

Para os autores, a festa e a devoção podiam coexistir nas seitas ou confrarias porque o paganismo era uma religião de festas: o culto não passava de uma festa, com a qual os deuses se divertiam, pois nela encontravam o mesmo prazer que os homens.A devoção consiste em prestar ao deuses as devidas homenagens; a festa religiosa oferece duplo prazer de ser também um dever.A confusão só se desfaz quando se resolve ordenar ao fiel que confesse seus sentimentos, o que o paganismo não exigia.Para ele a homenagem prestada aos deuses solenizava o prazer.Então o ato principal do culto era o sacrifício, ao qual se assistia com grande recolhimento.A seguir uma refeição a qual se comia a vítima imolada depois de assá-la no altar.E aos assistentes, a carne da vítima, aos deuses, a fumaça.Os restos do festim ficavam sobre o altar, e os mendigos iam recolhê-los.
O calendário religioso era diferente de uma cidade para outra, periodicamente restaurava festas religiosas; essas festas eram feriados.A religião dominava assim a distribuição irregular dos dias de descanso ao longo do ano, sendo que nesse dias um Romano convidava os amigos a assistirem ao sacrifício que oferecia em sua casa, o que os honrava muito mais que simplesmente convidá-lo para jantar.As festas nacionais dos imperadores e de alguns deuses, primeiro do ano de cada mês; pois um costume caro entre os romanos que tinham meios para tanto era de sacrificar no começo do mês um leitão ao gênios protetores da casa.Uma grande festa anual, celebrada com real fervor, era o aniversário do pai de família, que nesse dia, banqueteava-se em homenagem ao seu gênio protetor.Já os pobres ofereciam vítimas menos cara; sacrificavam uma ave doméstica a Esculápio diante de seu templo para depois comê-la em casa; ou então depositavam no altar doméstico um simples bolo de trigo.Outra festa citada pelo texto era o ritual de convidar os deuses a jantar.Instalavam-se na sala de refeições sua estatuetas, retiradas do nicho sagrado da casa, e diante delas colocavam-se pratos de comida; depois do jantar esse alimento era abandonado fazendo a delícia dos escravos.Os camponeses também tinham suas festas sazonais segundo um calendário rústico, celebram-na não menos alegremente; com os presentes que os meeiros lhe entregavam, o grande proprietário sacrifica ao deuses dos campos o dízimo dos produtos da terra e depois comem, bebem e dançam; e chagada a noite, é um direito ou até mesmo um dever fazer amor para encerrar dignamente esse dia que todos exultaram para melhor honrar os deuses.

Espetáculos

Ariès e Duby afirmam que os espetáculos interessavam a todos, inclusive a senadores e pensadores sendo que os gladiadores e os carros não eram prazeres unicamente populares.No teatro as chamadas pantomimas, eram criticadas por favorecer atitudes efeminadas e às vezes proibidas, ao contrário dos gladiadores, que, por infames que fossem, tinham o mérito de fortalecer a coragem dos espectadores.Contudo até suas lutas e as corridas de carros encontravam censores: tais espetáculos resultavam da tendência humana a complicar a natureza simples e a preocupar-se com futilidades, o que não impedia os intelectuais assistirem os espetáculos como todo mundo.Assim sendo, esses espetáculos constituem em o grande acontecimento, que, em terra grega, são os concursos atléticos.Então atletas, atores e gladiadores eram estrelas; o teatro ditava a moda.No espetáculo o prazer torna-se uma paixão cujo excesso os sábios reprovavam, como também farão os cristãos.Nessa perspectiva o papel dos gladiadores na vida romana é introduzir uma forte dose de prazer sádico plenamente aceito, pois o espetáculo não era uma luta de esgrima com riscos reais: todo interesse estava na morte de um dos combatentes ou na decisão de degolar ou poupar o gladiador que, exausto, enlouquecido, fora reduzido a pedir piedade.
Fazendo um paralelo com a Grécia, nos concursos atléticos a morte de um boxeador não era um acidente do esporte, mas uma glória para o atleta, morto na arena como no campo de honra; o público exaltava-lhe a coragem, a resistência, à vontade de vencer.Assim sendo os autores destacam que a literatura e a imaginária greco-romana não são sádicas em geral, ao contrário, e o primeiro cuidado dos romanos, quando iam colonizar um povo bárbaro, era proibir os sacrifícios humanos.Uma cultura é feita de exceções cuja incoerência escapa aos interessados, e em Roma os espetáculos constituíam uma dessas exceções; as imagens dos suplicados só figuram na arte romana porque tais infelizes foram mortos num espetáculo, sendo no imaginário desse romano, uma instituição consagrada.

João Vinicius Bobek

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