Projeto de Prática Pedagógica no Museu Campos Gerais
Tema: Tropeiros na Região dos Campos Gerais
Temática:
A palavra "tropeiro" deriva de tropa, numa referência ao conjunto de homens que transportavam gado e mercadoria no Brasil colônia. O termo tem sido usado para designar principalmente o transporte de gado da região do Rio Grande do Sul até os mercados de Minas Gerais, posteriormente São Paulo e Rio de Janeiro, porém há quem use o termo em momentos anteriores da vida colonial, como no "ciclo do açúcar" entre os séculos XVI e XVII, quando várias regiões do interior nordestino se dedicaram à criação de animais para comercialização com os senhores de engenho. Na maioria das obras didáticas, tropeirismo é associado com a procriação e venda de gado, porém essa atividade se iniciou com o desenvolvimento da mineração, entre os séculos XVII e XVIII.
A descoberta do ouro e posteriormente de diamantes, foram responsáveis por um grande afluxo populacional para a região das minas gerais, tanto de paulistas, como de portugueses e ainda de escravos. Essa grande corrida em busca do eldorado foi acompanhada por um grave problema, a falta de alimentos e de produtos básicos, responsável por sucessivas crises na primeira década do século 18, onde a falta de gêneros agrícolas resultou em grande mortalidade.
Estas crises de fome afligiram a zona mineradora por longos períodos, quando se chegou inclusive a interromper os trabalhos extrativistas para a produção de alimentos. Tais crises de fome foram muito fortes nos anos de 1697-1698, 1700-1701 e em 1713.
De fato, aqueles que migraram para a região mineradora sonhavam com a riqueza mineral e poucos se dispunham a trabalhar a terra, sendo que tal situação fez com que florescesse um comércio interligando o porto do Rio de Janeiro ao interior. Tanto os produtos manufaturados que chegavam de Portugal, quanto os gêneros agrícolas, eram transportados no lombo de animais para a população das minas gerais, pois mais de 90% do consumo de necessidades dos mineiros a Capitania opulenta não produzia. Não achavam razoável deslocar um escravo para a agricultura, quando esse mesmo escravo, empunhando a bateia, dava lucro cem vezes maior ao seu senhor. Dai a importância das tropas na movimentação da produção desde os primeiros dias da conquista.
O crescimento das cidades e a formação de uma elite na região mineradora aumentaram a necessidade de animais, tanto para as atividades locais, como para o transporte de carga, cada vez maior, em direção ao Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo a riqueza gerada pela mineração foi responsável por estimular uma série se atividades paralelas, urbanas, reforçando ainda mais a atividade dos tropeiros, que transportavam os mais variados produtos e ainda cumpriam o papel de mensageiros.
Os Tropeiros
Nos Séculos XVII e XVIII, os tropeiros eram partes da vida da zona rural e cidades pequenas dentro do sul do Brasil. Vestidos como gaúchos com chapéus, ponchos, e botas, os tropeiros dirigiram rebanhos de gado e levaram bens por esta região para São Paulo, comercializados na feira de Sorocaba. De São Paulo, os animais e mercadorias foram para os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Em direção às minas, o transporte feito no lombo de animais foi fundamental devido aos acidentes geográficos da região, que dificultavam o transporte. Já para as regiões de Goiás e Mato Grosso, a maioria dos produtos eram transportados através dos rios, nas chamadas monções.
É difícil definir os homens que se dedicavam a esta atividade. Muitos homens de origem paulista, vicentina, ou seus descendentes, se tornaram tropeiros, assim como muitos homens de origem portuguesa.
O fato de a Capitania de São Vicente ter prosperado de forma limitada, obrigou muitos de seus habitantes a subirem a serra e a se fixarem no planalto. Assim surgiu a vila de São Paulo, formada por uma camada pobre, que abandonara o litoral. A economia precária baseada numa agricultura de subsistência determinou a necessidade de atividades complementares, originando o bandeirismo, porém nem todo homem paulista tornou-se bandeirante. Muitos que inicialmente se dedicaram ao apresamento indígena, se fixaram em terras no sul e, com o passar do tempo, foram se integrando ao pequeno comércio, praticado no lombo de mulas.
Contando com uma população composta por homens de origem vicentina e portuguesa, a vila de Laguna era o ponto extremo do litoral brasileiro e dela partiram muitas famílias para outras áreas do interior do sul, também preocupadas com o apresamento indígena num primeiro momento, e que tomaram contato com a criação de gado, praticada nas missões jesuíticas.
A própria história do Rio Grande do Sul deu origem a elementos que se dedicariam ao tropeirismo. A necessidade de povoar a região, segundo interesses dos portugueses, fez com que o governo real facilitasse o acesso a terra e garantisse um elevado grau de liberdade e autonomia para a região, fato que, teve como uma de suas conseqüências o predomínio da grande propriedade no século 17, que beneficiava poucas famílias e marginalizava grande parte da sociedade que ali se formava.
O tropeiro iniciava-se na profissão por volta dos 10 anos, acompanhando o pai, que era o negociante (compra e venda de animais) o condutor da tropa. Usava chapelão de feltro cinza ou marrom, de abas viradas, camisa de cor similar ao chapéu de pano forte, manta ou beata com uma abertura no centro, jogada sobre o ombro, botas de couro flexível que chegavam até o meio da coxa para proteger-se nos terrenos alagados e matas.
No Rio Grande, a cidade de Viamão tornou-se um dos principais centros de comércio e formação de tropas que tinham como destino os mercados de São Paulo. Porém de outras regiões do sul partiam as tropas, quase sempre com o mesmo destino. Nesses trajetos, os tropeiros procuravam seguir o curso dos rios ou atravessar as áreas mais abertas, os "campos gerais" e mesmo conhecendo os caminhos mais seguros, o trajeto envolvia várias semanas. Ao final de cada dia era acesso o fogo, para depois construir uma tenda com os couros que serviam para cobrir a carga dos animais, reservando alguns para colocar no chão, onde dormiam envoltos em seu manto. Chamava-se "encosto" o pouso em pasto aberto e "rancho" quando já havia um abrigo construído. Ao longo do tempo os principais pousos se transformaram em povoações e vilas. É interessante notar que dezenas de cidades do interior na região sul do Brasil e mesmo em São Paulo, atribuem sua origem a atividade dos tropeiros.
A alimentação dos tropeiros era constituída por toucinho, feijão preto, farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e coité (um molho de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos comiam feijão quase sem molho com pedaços de carne de sol e toucinho (feijão tropeiro) que era servido com farofa e couve picada. Bebidas alcoólicas só eram permitidas em ocasiões especiais: quando nos dias muitos frios tomavam um pouco de cachaça para evitar constipação e como remédio para picada de insetos.
O tropeiro montava um cavalo que possuía sacola para guardar a capa, a sela apetrechada, suspendia-se em pesados estribos e enfeitava a crina com fitas. Chamavam "madrinha" o cavalo ou mula já envelhecida e bastante conhecida dos outros animais para poder atraído era a cabeça da tropa e abria o percurso, com a fila de cargueiros à sua retaguarda; "malotagem" eram os apetrechos e arreios necessários de cada animal e acondicionamento da carga e "broaca" os bolsões de couro que eram colocados sobre a cangalha e serviam para guardar a mercadoria.
Em torno dessa atividade primitiva nasceram e viveram com largueza várias profissões e indústrias organizadas, como a de "rancheiro", proprietários de "rancho" ou alojamento em que pousavam as tropas. Geralmente não era retribuída a hospedagem, cobrando o seu proprietário apenas o milho e o pasto consumidos pelos animais, porque as tropas conduziam cozinhas próprias. A profissão de ferrador também foi criada pelas necessidades desse fenômeno econômico-social, consistindo ela em pregar as ferraduras nos animais das tropas e acumulando geralmente a profissão de aveitar ou veterinário. A incumbência de domar os animais ainda chucros era também uma decorrência do regime de transportes e chamavam-se "paulistas", porque conduziam ao destino os animais adquiridos em Sorocaba.
No norte de Minas "paulista", "peão" e "amontador" eram sinônimos, mas tinham significação específica. Assim é que "paulista" era o indivíduo que amansava as bestas à maneira dos peões de São Paulo. Peão era todo amansador de eqüinos e muares à moda do sertão, e amontador era apenas o que montava animais bravios para efeito de quebrar-lhes o ardor. Depois é que vinha o "acertador", homem hábil e paciente, que ensinava as andaduras ao animal e educava-lhe a boca ao contato do freio. É a mais nobre de todas.
Objetivos:
Pretendem-se através dessa temática despertar no aluno o interesse pela busca pelos conhecimentos das suas origens, usando recursos disponíveis no Museu Campos Gerais, pois esse estudo deve instigar despertar e levar o aluno a perceber que através das visitas ao Museu, ele pode através do campo imaginário refletir criticamente e encontrar as respostas as suas indagações, realizando pessoalmente as investigações e pesquisas que serão transformadas em experiências para sua vida pratica. Assim sendo analisar as leituras,apropriações e re-significaçoes do Museu,construídas durante a visita,contribuirá para o entendimento da construção do saber histórico,sempre privilegiando o olhar do estudante.Essa experiência deve ser vista com versões e representações do passado ,sendo para o aluno uma contribuição bem mais interessante ao processo educacional.
Como objetivos específicos procuramos nesse projeto refletir que o movimento tropeiro causou na construção da identidade ponta-grossense, perceber a importância da investigação de eventos que fizeram parte do nosso passado, pois pode ser útil para o nosso cotidiano, compreender o drama histórico do Tropeirismo através dos objetos, gerando questionamentos sobre sua identificação e utilização desses objetos e por último localizar no tempo a historia do Tropeirismo na região dos Campos Gerais e sua importância histórica para a região.
Justificativa:
Percebemos a importância da atividade dos tropeiros de diferentes maneiras: o abastecimento da região mineradora e outras, sem os quais a exploração das jazidas seria impossível; a ocupação da região interior do Brasil, contribuindo para consolidar o domínio português, ao mesmo tempo em que fundaram diversas vilas e cidades. O comércio de animais foi fator determinante para integrar efetivamente o sul ao restante do Brasil, apesar das diferenças culturais entre as regiões da colônia, os interesses mercantis foram responsáveis por essa fusão e indiretamente, pela prosperidade tanto da grande propriedade estancieira gaúcha, como de pequenas propriedades familiares, em regiões onde predominaram populações de origem européia e que abasteciam de alimentos as fazendas pecuaristas. Sendo assim esse projeto entende que devemos reavivar a memória dos alunos a memória dos alunos referente ao Tropeirismo na região dos Campos Gerais,sua influencia na região,assim como a origem das cidades e da maioria das famílias desses estudantes.Ao refletirmos sobre como foi o Tropeirismo para quem fez parte desta sociedade,nos leva a busca de informações ,questionamentos a respeito de como estes acontecimentos interferem na nossa vida atual,como foram nossas origens,de onde viemos e para onde vamos e quanto faz parte de nossa consciência histórica neste movimento.(...)”De onde viemos o que somos e para onde vamos”?-Será a chamada de consciência histórica e as múltiplas respostas a ela, diferentes em substancia e estrutura, serão ditos estágios da consciência histórica. “Agnes Heller (1993, p.15)”.
Referências Teórico-Metodológicos:
ABREU, Capistrano de. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1975.
ALBUQUERQUE, Mário Marcondes de. Pelos caminhos do sul: história e sociologia do desenvolvimento sulino. Curitiba: Imprensa Oficial, 1978.
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1982.
AVÉ-LALLEMANT, Robert Christian Berthold. Viagens pelas províncias de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. 1858. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.
BIGG-WITHER, Thomas Plantegenet. Novos caminhos no Brasil meridional: a província do Paraná, três anos em suas florestas e campos (1872/75). Rio de Janeiro: J. Olympio, 1974.
CARDOSO, Heitor. Álbum histórico: Lapa, 250 anos de fundação. Curitiba: Litero-técnica, 1974.
CARNEIRO, David A. da Silva. Afonso Botelho de Sampaio e Souza: seu julgamento e seu papel na construção do atual Paraná. Curitiba: Requião, 1951.
FILIZOLA, Ana Eliza. O tropeiro. Curitiba: SEEC, 1988
______. Bandeiras e bandeirantes em terras do Paraná (1523-1839). Curitiba, Guaíra, [194-].
______. Tropeirismo um modo de vida. Curitiba: SEEC, 1989.
TRINDADE, Jaelson Bitran. Tropeiros. São Paulo: Editoração, Publicações e Comunicações Ltda., 1992.
Preparação:
Turma:
Data:
Escola:
O ciclo do ouro em Minas Gerais estava em alta, como promover a exploração do excedente e distribuir essas riquezas para as demais cidades do Brasil? Um dos motivos para o surgimento e fixação do tropeirismo em nossa cidade foi promover um intercâmbio entre as mercadorias, eqüinos e muares produzidas na região sul, com as demais regiões do Brasil.Ponta Grossa ficou impregnada com a influência que esse movimento causou, assim como algumas cidades como Lapa, Castro , Piraí, Jaguariaiva, e aí por diante até seu destino Sorocaba.
Sendo assim,partindo dessa premissa,o projeto na escola será desenvolvido através da apresentação de um filme ou documentário sobre o tema,a seguir uma aula expositiva sobre a época e contexto histórico com a apresentação de alguns objetos e textos em transparências sobre o Tropeirismo e sua influência na socidade e no cotidiano .
Atividade no Museu:
O principal recurso metodológico utilizado será os objetos referentes ao Tropeirismo expostos na Museu Campos Gerais,textos sobre o tema,assim como outros objetos necessários para o desenvolvimento das atividades propostas:erva-mate,cuia de chimarrão,bomba e a desgustação da farofa de carne seca,uma das comidas típicas do moviemento Tropeiro..Devem ser levados em conta os seguintes aspectos: linguagem adequada ao nível da faixa etária que se pretende trabalhar;as indagações objetivas de fácil compreensão;a diagramação clara e agradável, com espaço suficiente para o preenchimento.A partir daí a organização da classe será dividida em grupos de seis alunos ,podendo ser adaptado.Esse projeto se inicializará com uma roda de chimarrão e seus apetrechos ,cena típica na época do tropeirismo,e a distribuição para cada aluno de uma cópia do seguinte poema :
“A LINGUAGEM DO MATE DOCE”
Mate sem assucar quer dizer indiferença
Mate doce quer dizer amizade
Mate com limão quer dizer desgosto
Mate com canela quer dizer penso em ti
Mate com bagaço de herva quer dizer sympatia
Mate com casca de laranja quer dizer quero te ver
Mate com herva cidreira quer dizer tua tristeza me aflige
Mate com leite quer dizer estima
Mate com café quer dizer piedade (Montegazza,1860).
O objetivo dessa introdução é levar o aluno a sensibilização,a identificação,compreenção e a percepção da relação do objeto com o cotidiano,social e cultural,encapsulado em cada artefato,assim como sua espressão e influência cultural que preservamos em nossos museus e fora deles como referência para o presente.
Após essa introdução a classe será dividida em grupos onde será levada a o bloco de História Regional do Museus Campos Gerais,onde através da exposição dos objetos será realizada uma mini-aula expositiva sobre o Trpoeirismo nos Campos Gerais.A Função desse projeto,assim como de cada objeto em exposição é de instigar o aluno a questionar e fazer uma possivel relação com o presente.A seguir será distribuida a seguinte questão para os alunos a ser discutida:Como o movimento Tropeiro influenciou ou não o processo de construção da identidade dos ponta-grossenses?Essa questão deverá ser discutida com um mini debate ,onde deverá ser levado em conta a bagagem cultural que cada aluno traz de casa sobre o tema proposto.Passado o tempo de discussão ,propor que os grupos preencham,individualmente, um formulário diversificado,com questões sobre o Tropeirismo e Patrimonio Cultural, com os possíveis reflexos da inflência tropeira em Ponta Grossa e Campos Gerais.
Após o término dessas atividades,que deverão ser entregues,serão levantadas questões propostas pelos alunos e como finalização,com toda a classe reunida,será realizado um apanhado geral sobre o tema e a seguir proposta uma nova atividade a ser intregue na escola.
Finalização:
Para Maria de Lourdes Parreira Horta, a metodologia da Educação Patrimonial pode ser um instrumento valioso para o trabalho pedagógico dentro e fora da escola. Para alcançar a multiplicação das idéias e conceitos propostos neste campo da Educação baseada no Patrimônio Cultural é importante que se faça um treinamento com os agentes que irão desenvolver este trabalho nas escolas, nas associações de bairros, ou em qualquer espaço ou grupo social que se pretenda sensibilizar. Os objetos patrimoniais e os edifícios e centros históricos, os sítios arqueológicos e paisagísticos podem refletir a maior parte da História do Brasil e do mundo. Os objetos e monumentos do passado são a evidência concreta da continuidade e da mudança dos processos culturais. A comparação da própria casa com as casas do passado pode dar aos alunos a compreensão de como os estilos e modos de vida das sociedades mudam ao longo do tempo. Em um automóvel moderno podemos encontrar ainda os traços das antigas carruagens puxadas a cavalo. Os detalhes de diferenciação dos objetos do passado e do presente podem ser traçados num gráfico, ou linha de tempo, que pode ser comparada a uma árvore genealógica, situando os personagens familiares em diferentes épocas.
Assim ainda na visita ao museu será distribuida aos alunos a seguinte questão:Qual o significado que o Museu tem na sua vida e cotidiano?Sendo assim a retroalimentação será feita na escola num outro dia proposto,onde cada aluno deverá entregar individualmente a questão respondida para que o projeto seja finalizado e demais dúvidas esclarecidas para que os objetivos centrais desse projeto sejam atingidos.
Elaborado por João Vinicius Bobek
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