Festas Romanas: Da Época Dos Reis ao Advento Do Cristianismo
Zélia de Almeida Cardoso
Extraído do Livro: ”Memória e Festa”
O artigo inicia-se fazendo uma referência às festividades promovidas em Roma, sobretudo na época imperial, pois tal advento poder ter sido a conseqüência da evolução política e social que levou os donos do Império a servirem-se das festas que a religião outrora introduzira em Roma, ampliando-as em número e modificando-as, a fim de que seu domínio sobre as massas consolidasse.As diversas modalidades de realizações festivas que marcaram a civilização romana representam uma espécie de prolongamento das “festas” propriamente ditas, aquelas que vieram de uma época primitiva, impregnada de religiosidade, e que por séculos conseguiram guardar seus traços mais importantes.Sendo assim percebe-se que na raiz dessas festas está o fator sagrado, pois elas nasceram de rituais-rituais religiosos relacionados com a guerra, com a política, a família, os ciclos sazonais e as atividades sociais e profissionais de várias espécies, cada uma das quais tinha seu patrono na figura de uma divindade.
Sendo assim existem muitas referências a festas realizadas anualmente em Roma e segundo seu rigoroso calendário pode-se destacar algumas sempre relacionadas com os meses do ano a partir do mês de Janeiro que deve seu nome devido a Jano, uma das mais antigas divindades romanas, o deus dos limiares, das entradas e portas, patrono das calendas.As festividades de janeiro são de forma especial, por assinalarem a abertura, não só de um mês, mas de um novo ano, um novo ciclo.As comemorações de Fevereiro eram as festas de purificação e expiação.Sendo assim comemoravam-se duas peculiares festividades religiosas, ambas de caráter expiatório-purificatório: as Lupercais e as Ferálias.As primeiras muito antigas que lembra as práticas carnavalescas e as Ferálias que representavam o clímax das solenidades realizadas pelas famílias nos nove dias anteriores, em homenagem aos parentes mortos, as chamadas Parentais.Março era o mês das Matronais, festas destinadas às mulheres casadas, sobretudo às mães em honra de Minerva, sendo festas femininas por excelência.No mês que tudo se abre, Abril, cultuava-se Vênus.As homenagens à deusa eram feitas por mulheres de todas as categorias como mães e prostitutas.As estátuas da deusa eram despidas, despojadas das jóias, lavadas e eram-lhe feitas muitas oferendas.Em Maio cultuava-se Flora, a deusas das flores, responsável pela fermentação do vinho e pela produção de mel e finalmente em junho realizava-se a festa de Carna, uma das divindades mais antigas de Roma, esposa de Jano e protetora dos gonzos.
A autora destaca que além dessas festividades, de nítido caráter religioso, muitas outras poderiam ser arroladas como, por exemplo, as Terminálias, festas rurais em honra de Término, o deus dos limites, as Vinálias, que ocorriam duas vezes ao ano, para comemorar a florescência das vinhas e a colheita das uvas e por último as Bacanais, em honra a Baco que caracterizavam pelo caráter orgiástico e foram objetos de sanções.Também se destaca que em algumas festas romanas, ao lado das atividades religiosas, realizavam-se jogos para entretenimento do povo.Esse jogos ditos oficiais apresentavam-se sob as formas de jogos competitivos e jogos cênicos, ou seja, apresentações teatrais, coexistindo com as festividades tipicamente religiosas, mas as suplantaram, muitas vezes, em termos de interesse despertado entre as camadas populares.Zélia de Almeida Cardoso cita Carcopino para mencionar sobre esse fenômeno que ocorria na época imperial.Para o autor, nesse momento a religião romana apenas fornecia um pretexto para as festas: o que importava ao povo eram os espetáculos em si, o teatro, os jogos circenses, sobretudo as corridas de carros, as lutas, os combates simulados, as naumaquias, sendo que nos primeiros tempos, as corridas se vinculavam as cerimônias sagradas.
Além das corridas, que se ampliavam em número com o passar do tempo, às realizações levado a termo no circo e no teatro somava-se as “competições” realizadas nos anfiteatros.E foi nestes que se presenciou a decadência da festa romana.A religiosidade primitiva que se extravasava em procissões, preces, oferendas e sacrifícios foi abafada pela sanha sanguinária daqueles que se compraziam em ver o sangue correr e as vidas se extinguirem na arena.A autora destaca que na origem dessas competições estão sem dúvida os espetáculos dos Munera, as lutas de gladiadores.Esse combates se tornaram cada vez mais freqüentes, transformando-se num dos muitos espetáculos promovidos apenas para entreter o povo, sendo que para a realização dessas lutas, e de outras que praticamente as complementaram, era necessário a construção de edifícios especiais, diferentes dos teatros e circos,como O Coliseu, concluído por Tito e Domiciano.
Após essa época de glória dos combates entre os gladiadores, reações começam a surgir.Mas apenas no século IV, com Constantino e o triunfo do Cristianismo, é que foram suspensas tais lutas e o recrutamento de gladiadores.As festas pagãs desapareceram, substituídas pelas cerimônias cristãs, muitas vezes apresentando ingredientes similares aos das antigas festas romanas, ligeiramente modificadas, mas fazendo reviver um tempo que se foi, como por exemplo, as festas de Natal que relembram as que comemoravam o solstício de inverno e a Páscoa, as festas da Primavera.Sendo assim, conclui-se que o homem, assim como o romano antigo, procura na festa a aproximação com o próximo e com a divindade sendo sua auto-identificação.
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